O roteiro desta série espanhola da Netflix parece sacal. Merlí (interpretado pelo ótimo Francesc Orella) é um professor de Filosofia que tem um jeito heterodoxo de educar, mas conquista uma classe de adolescentes. Acontece que o diferente é que esse encantamento não surge porque o educador é perfeito, mas justamente porque é humano, comete desvios de condutas, incoerências e vive dilemas da mesma forma que cada um de nós. Ao fim e ao cabo, a graça da série é colocar cada espectador diante das suas próprias fragilidades.
Sendo assim, tome porrada! Ao longo dos 13 episódios da primeira temporada, vão se descortinando vários dilemas éticos, sempre à luz dos grandes filósofos da humanidade – quem nunca ficou tentado a roubar a prova do colégio e entregar para o filho que está de recuperação? É correto um professor atravessar o samba e namorar a mãe de um aluno? Ou é melhor não misturar as estações e sufocar o desejo? Filantropia é pro bem ou pro mal? É certo arrecadar alimentos ou cobrar dos governantes que deem comida para os pobres com os impostos que pagamos? Vale a pena esconder do marido que autorizou o filho a ir a uma festa ou é melhor bancar a verdade, ganhando pontos com o amor e perdendo a confiança do rebento?
E como ajudar essa gangue a romper e ser feliz nesta montanha-russa chamada adolescência? Tem que ter muita coragem pra sair do armário, pra assumir um corpo fora do padrão de beleza, pra escolher o ofício que vai seguir pro resto da vida, pra vencer uma síndrome do pânico, pra dar adeus à virgindade, pra ser sensível sem ser piegas, pra ser forte, sem ser injusto, pra não discriminar os colegas negros e imigrantes – temática importante da atualidade, mas que ficou de fora do roteiro. Aff…pobres peripetéticos e miseráveis pais, mães e educadores dessa turma.
Só mesmo recorrendo a Aristóteles, Nietzsche, Foucault, Platão, Descartes e…claro, ter a sorte de encontrar um Merlí que seja numa sala de aula do seu tedioso Ensino Médio!
Verdade, eh tudo isso que vc disse… Mas a gente não tá pronto pra isso. Eu mesma fiquei puta com a conduta dele. Talvez seu texto tenha mostrado o quanto sou preconceituosa.
Eu tb fiquei, continuo chateada. Mas é aquilo, todos temos nossas derrapadas, nossos deslizes
Complexo!!! Ainda bem que “temos a arte pra não morrer da verdade”!!!
Ainda bem!